A caridade começa em casa — e a lealdade também. Ao que tudo indica, o comprometimento do 47º presidente dos Estados Unidos com o setor cripto tem menos a ver com ideologia e mais com interesses próprios. Donald Trump e sua família embolsaram US$ 57,7 milhões com a emissão de tokens por uma empresa de ativos digitais fundada, veja só, com a participação direta de seus filhos em 2024. A Casa Branca nega qualquer conflito de interesses, mas os investidores não são tão ingênuos. O Bitcoin pode muito bem se tornar um termômetro da eficácia de Trump como presidente.
O Bitcoin já vestiu muitos figurinos. E o mercado ainda tenta definir qual é, afinal, seu verdadeiro papel. Ora é visto como ativo de risco, ora como proteção — embora sua trajetória muitas vezes fuja dos padrões dos principais índices acionários dos EUA. Em outros momentos, anda de mãos dadas com o ouro, justificando sua fama de porto seguro. Mas os acontecimentos recentes no Oriente Médio colocaram essa narrativa à prova.
Os ataques de Israel ao Irã, seguidos por represálias, derrubaram não só o S&P 500, como também as criptomoedas. Altcoins como Solana e Cardano foram as que mais sofreram, acumulando perdas por vários dias seguidos. Já o Bitcoin, que responde por cerca de 60% da capitalização total do mercado cripto, conseguiu se estabilizar após uma liquidação inicial. O apetite por risco deu lugar ao medo, e isso ficou evidente na disparada do índice de volatilidade VIX.
Dinâmica do índice do medo VIXO Bitcoin provou, mais uma vez, que continua sendo, acima de tudo, um ativo de risco — mesmo reagindo positivamente às ações do presidente Trump, declaradamente pró-cripto.
A equipe de Trump segue avançando na agenda de regulamentação das stablecoins. Um dos exemplos é Scott Bessent, que defende que a expansão global de stablecoins lastreadas em títulos do Tesouro dos EUA aumentará a demanda pelo dólar. Segundo o secretário do Tesouro, assim que o Congresso aprovar a nova legislação, o volume de stablecoins em circulação pode saltar dos atuais US$ 250 bilhões para US$ 2 trilhões nos próximos anos. Já o Citigroup faz uma projeção mais conservadora: US$ 1 trilhão até 2030.
Ou seja, o apoio de Trump às criptomoedas — movido, em parte, por interesses pessoais — não deve desaparecer tão cedo. Isso continua sustentando a tendência de alta do BTC/USD. No entanto, a correção atual é reflexo direto do aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio e da consequente deterioração do apetite global por risco. A profundidade desse movimento corretivo vai depender dos desdobramentos no conflito entre Israel e Irã.
O diretor da empresa de estratégia Michael Saylor concorda com essa interpretação. Ele acredita que o inverno das criptomoedas não voltará. O Bitcoin está caminhando para US$ 1.000.000 e não tem intenção de cair para zero.
Tecnicamente, um padrão de reversão 1-2-3 pode estar se formando no gráfico diário do BTC/USD. Para que esse padrão seja ativado, os ursos precisam romper o suporte-chave no valor justo de 105.000 e o nível pivô em 103.300. O sucesso nesses níveis permitiria aos traders considerar a formação de posições vendidas de curto prazo.