
A forte recuperação do mercado norte-americano, impulsionada pelo rápido avanço da inteligência artificial desde o final de 2022, tem sido bem menos abrangente do que sugerem as manchetes. A maior parte dos ganhos está concentrada em um pequeno grupo de gigantes corporativos, enquanto o restante do S&P 500 ainda avança em ritmo lento.
John Higgins, economista-chefe de mercados da Capital Economics, afirma que, sem o fator IA, o S&P 500 estaria hoje mais próximo dos 5.000 pontos — cerca de 25% abaixo do nível atual. Em outras palavras: o índice parece impressionante principalmente porque um punhado de empresas o está puxando para cima a um ritmo que não se reflete no conjunto do mercado.
Segundo a Capital Economics, a concentração dentro do índice continua a se intensificar. Os setores de tecnologia e comunicações exibem retornos que os demais só conseguem observar de longe. Mesmo o setor de consumo aparenta força sobretudo graças ao peso das empresas de grande capitalização. Já os índices ponderados igualmente revelam um cenário bem diferente, e muito menos exuberante.
Para medir o impacto da IA, Higgins comparou o índice tradicional, ponderado por valor de mercado, com sua versão de pesos iguais. Extrapolando a partir do final de 2022, a análise mostrou que retirar a influência dos maiores players colocaria o S&P 500 significativamente mais baixo. A divergência entre setores confirma isso: as big techs e outras grandes empresas colhem os benefícios, enquanto companhias de médio e pequeno porte seguem à margem.
Ainda assim, Higgins destaca que, apesar do domínio das gigantes, que hoje representam mais de 40% da capitalização total —, mais de um terço das empresas do S&P 500 permanece fora desse grupo de elite. Para elas, o impacto da inteligência artificial ainda é quase imperceptível. No entanto, esse quadro pode mudar à medida que as empresas passem a adotar essas tecnologias não apenas como vitrine, mas como ferramentas reais de ganho de produtividade.
Alguns sinais já começam a surgir. A Capital Economics cita o Walmart, que vem incorporando soluções de IA por meio de sua parceria com a OpenAI. Até setores tradicionalmente defensivos começam a experimentar — ainda devagar, mas já demonstrando adesão crescente às inovações.